É que ela era tão dela. Decidia com que roupa eu ia, com quem eu falava e pra onde iria. Não vou mentir, mas as vezes não entendia, até me sentia menos eu, mas em compensação estava me tornando mais dela. E eu gostava, sentia algo diferente, o cuidado e a segurança que tanto esperava em alguém, que muitas vezes parecia não chegar. Mas chegou, era ela. Os olhos negros, que eu digo e repito, não há azul de cinema que chegue perto do encanto que os dela traz. Fui vivendo e sentindo as sensações de tê-la em mim, nas molduras que eu reinventava para caber nela. Me perdi muitas e tantas vezes e ela me achava. As vezes achava estranho, mas depois divertido, afinal, era ela, não era?! Aos poucos tudo meio que mudou. Os seus olhos já não me traziam aquele encanto, ela já não me olhava tão de perto. Não fazia tanta questão dos nossos encontros marcados das quartas e nem que eu usasse tanto aquela pulseira que me deu. Sem explicação ela se foi, doeu. Eu senti! Deixou em mim feridas que se prolongaram em calos e hoje ainda existe aquela cicatriz. Quando me perguntam o motivo eu lembro dela, de quando o seu olhar me deixava flutuando por aí. Outra vez ela voltou, sorriu e com o jeito meio sem querer dizer nada, deixou um bilhete, disse nele que me amou, amou demais, mas percebeu que amou o que ela fez, não a realidade. Amou a ilusão que ela me fez ser. E naquele momento doeu, fiquei estagnado, o meu mundo parou, mas depois eu sorri. Sim, sorri! Nunca estive tão de acordo com ela. Parei e pensei no que fui quando estávamos juntos, me dei conta que fui mais dela do que de mim. Deixei que alguém me roubasse de quem eu realmente era, dos meus gostos, meus desejos. E isso é algo que me levou a ser uma grande ilusão. E passou porque sempre passa! Mesmo que os outros nos roubem de nós mesmos, uma hora a gente acorda do faz de conta, do sonho e se permite conhecer o tal do amor próprio. E agora ela deve estar por aí, nos braços de outra pessoa, espero que aceite-o como eu a aceitei, mas que nunca ninguém se modifique para agradar porque o amor verdadeiro sobrevive da verdade, dos defeitos e dos acertos, mas não da expectativa, como foi o nosso!

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